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sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Cara e coroa

Davi e Jônatas, Rembrandt


Com um beijo de um falso companheiro o Messias foi traído e começou o seu calvário. Com um magnífico lamento o rei salmista pranteou a morte do seu grande amigo, o príncipe guerreiro, morto na batalha. Judas Iscariotes e Jônatas ben Saul, quais imagens especulares que se vêem mas se opõem, são arquétipos — modelos universais — da verdadeira e da falsa amizade. No lado de cá do espelho, temos um companheiro leal, sincero e desprendido; no de lá, um oportunista cego, covarde e desonesto. As histórias de Jônatas e de Judas são uma o reverso da outra. Ambos estão ligados a personagens messiânicos (Davi como tipo de Cristo, Cristo como antítipo de Davi); ambos tiveram fim trágico; e ambos, também, nos despertam sentimentos radicais.

Celebrado pela força e bravura, o príncipe também era um excelente arqueiro. Jônatas conheceu Davi no episódio da morte de Golias, e a amizade deles perdurou por toda a vida. Quando Saul, no princípio de sua demência, cogitou em matar Davi, o príncipe se opôs de imediato (1 Sm 19.4). À medida que o filho de Quis urdia os golpes mais baixos para eliminar o filho de Jessé, Jônatas mais e mais o protegia — nesse conflito, o príncipe brilhava e o rei se perdia. A prova cabal de amizade foi o próprio Jônatas reconhecer que Deus passara o reino a Davi e, portanto, ele, Jônatas, não herdaria o trono, contudo se alegraria em servir ao novo rei (1 Sm 23.17)! Essa alegria se desfez prematuramente na terrível batalha de Gilboa, quando caiu Saul e seus três filhos. Ainda assim, a morte de Jônatas é gloriosa.

Ao contrário dos onze apóstolos, galileus, Judas Iscariotes era da Judéia (como Jesus), o que o liga naturalmente a Judá, seu protótipo. Este vendeu o próprio irmão como escravo (Gn 37.26-27); aquele entregou seu Mestre pelo preço de um. Era ladrão e mesquinho (Jo 12.5-6) e deixou-se usar por Satã (Jo 13.27). Judas ouvira várias vezes o Senhor pregar contra o amor ao dinheiro, o fermento dos fariseus e a falta de fé, mas pecou nesses pontos. A prova maior da inimizade não foi o beijo, mas a cara-de-pau na última ceia, quando indagou: “Ó Mestre, seria eu o traidor?” Vendo o Filho do Homem preso e condenado, caído em si de remorsos, enforcou-se. Sua vida foi vergonhosa; sua morte maldita.

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