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quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Vestígios do dia



A narrativa do dilúvio (Gênesis 6) é um eloqüente testemunho da severidade divina com o pecado. Deus ceifou toda a humanidade de uma era, salvando apenas oito pessoas — a família de um respeitável senhor de 600 anos! O Dilúvio subverteu as expectativas: a velhice é mais vantajosa que a juventude; a maioria é sacrificada e a minoria poupada; e a própria Terra passa de abrigo ao matadouro da raça humana. A graça comum foi suspensa e só restou a tragédia coletiva, esmagadora e inescapável. Há lições valiosas a aprender desse grave memorial.

1. Deus preferiu velhos a jovens para recomeçar. O idoso Noé passara os seus últimos cem anos construindo a arca e pregando às pessoas que, no entanto, queriam comer e beber, enfim, viver a vida intensamente. Porém Deus desprezou o vigor daquela geração, escolhendo a fé, a integridade e a obediência de um patriarca, ainda que (por nós) considerado muito velho para encabeçar a recolonização da terra.

2. Deus fez justiça quando tudo parecia perdido e manifestou juízo quando tudo parecia tranqüilo. A beleza e esplendor daquele mundo ensejava a ilusão de que Deus estava longe demais para combater toda aquela imoralidade violenta. A pregação de Noé foi o libelo da justiça, do acerto de contas iminente, abertamente rejeitado. Então Deus fechou a porta, pondo fim à impunidade e selando o destino de todos — o que é advertência e conforto para nós.

3. Poupando um remanescente, Deus trouxe-nos esperança. Quando a chuva interrompeu a alegria da última festa e as águas diluíram o vinho da derradeira garrafa, as pessoas se deram conta do fim, mas já era tarde, pois a arca flutuava. O juízo divino engolfava homens e animais, destruindo suas vidas perdidas. Dentro da arca, Noé e os seus eram tudo com que Deus contaria a partir dali. Poupados pela graça divina, enfrentariam o dilúvio e uma terra desfigurada, agora hostil. Noé compreendeu o chamado, pelo que ao sair da arca ofertou a Deus um holocausto. E o mais belo arco-íris rasgou o céu. Noé olhou e sorriu: quem anda com Deus pode aguardar melhores dias.

10 comentários:

Eu disse...

Uma visão bastante interessante sobre o dilúvio! Gostei da análise.
Sabia que consta da mitologia grega um dilúvio também? E muitos outros fatos e personagens parecem os mesmos daqueles existentes na Bíblia.
Ainda vou procurar entender melhor essa relação (se é que existe).
Quanto ao seu comentário no meu blog, deixei resposta lá mesmo.
Acho que minhas palavras não se adequariam muito ao tipo de conteúdo do seu blog! ;)
Abraço!

Ariel Sullivan disse...

Ora, meu caro, essa narrativa está no inconsciente coletivo de todas as culturas. Não é surpreendente que haja vestígios da história entre gregos e baianos…
E claro que seus comentários são pertinentes!
Um forte abraço!

Ismael Patriota disse...

Ariel,

Godtei do blog e da postagem...realmente muito pertinente essa história de valores invertidos de Deus nesses tempos de hoje....mas afinal, o dilúvio foi universal ou não?...rsrs...grande abraço!

Ariel Sullivan disse...

Digamos que foi universal em seu significado. Todos os seres humanos (à exceção de Noé e sua família) de então pereceram nesse cataclisma, junto com inúmeros animais; esse o é o ponto. A evidência textual (bíblica) sugere que a extensão foi grande o suficiente para ser considerada “universal”, mas só Deus sabe…
Um abraço!

Unknown disse...

Parabéns pelo novo espaço, "Clean" e inteligente, amigo Ariel.

Recentemente foi lançado um livro que traz informações interessantes sobre o "Gênesis" Mosaico. O nome do livro é "Bereshit - Deus e a Criação do Universo", lançado pelo teólogo e pesquisador Severino Celestino da Silva e o israelita Gad Azaria.

Mergulhando nos textos hebraicos, os autores desta obra pesquisaram tudo que envolve o seu conteúdo, buscando desvendar, ou melhor, aproximar de uma compreensão científica para a criação.

Vale a pena conferir.

Abraços.

Ariel Sullivan disse...

Obrigado pelos elogios ao espaço e pela dica, meu caro amigo. Agora, minha opinião é que qualquer abordagem “científica” que se dê às histórias primevas do Gênesis não deve abandonar a consciência do mistério, do supremo e do absoluto…
Um grande abraço!

Anônimo disse...

Ariel, sua analise do mito do dilúvil bíblico Cristão, me parece uma interpretação Católica mediéval. Não tome isso como algo pessoal ou gratuito. A teologia contemporanea Católica se envergonha de ter em seu passado tal interpretação e eu não vejo na mensagem evangélica (PURAMENTE CRISTÃ) a teologia do medo e do terror. Essa mentalidade ideológica que neurotiza e patologiza a mentalidade daqueles que não conseguem filtrar uma opñião comprometida. Caso estejas certo, eu rejeito e renego qualquer vínculo com esse Deus implacável, fogo consumidor, sedento de justiça.
Frases que comprovam a latência da teologia do medo, da fobia do juízo final (divino):
1 * "A graça comum foi suspensa e só restou a tragédia coletiva, esmagadora e inescapável"
2 * " O juízo divino engolfava homens e animais, destruindo suas vidas perdidas".

Apreciei a valorização feita no seu texto do idoso face a cultura vigente da juventude eterna.

Ariel Sullivan disse...

Ora, meu caro Marden, não é só porque estamos no século 21 que transformaremos a mensagem do evangelho — que é de esperança mas também fala de juízo — num placebo de “make love, not war” para parecermos modernos, científicos e civilizados. Ou você se recusa a afirmar a severidade e a santidade de Deus para olhar apenas para o seu “amor”? O interessante é que Cristo disse que, quando voltar, encontrará a terra em condições morais e espirituais idênticas às dos dias de Noé…
Um abraço!

Unknown disse...

No suposto julgamento final o que prevalecerá será a misericordia, a complacência, a indugência, a compaixão, porque "Deus caritas est". Somos perdoados no amor, Deus quis precisar nos amor em sua incondicionalidade e em sua incausalidade... Essa idéia de que no tempo de Nóe o pecado era mais intenso, primeiro nao existe PECADOMETRO, segundo o homem pecou, peca e pecarpá, não se pode definir quem e em que tempo se peca mais...
Ler apocalipse de forma um tanto literal é também uma interpretação mediéval... As concepções de Deus essas são temporais e culturais, logo se pode taxa de retograda, mediéval, moderna ou contemporânea as conjecturações humanas...
O AMOR ESSE É ATEMPORAL, TUDO PASSA ELE PERMANECE, SEGUNDO SAO PAULO E O PRÓPRIO CRISTO.

Ariel Sullivan disse...

Obrigado mais uma vez pelo comentário, caro Marden. Evidentemente você está disposto a defender o amor de Deus até o fim… eu também, ora! A idéia de um Deus severo, concordo, não é agradável ao homem de hoje, de ontem, de sempre; mas não a percamos de vista…
Grande e fraternal abraço!